O moço andava meio cabisbaixo. Confuso, parecia que a vida era pura melancolia.
Estava se dirigindo ao trabalho. Não conseguia se concentrar no caminho e acreditava que a resignação seria a vencedora da batalha.
Os pés pesavam, seu corpo estava quente e não agüentava mais o peso de todas as obrigações que possuía em sua vida.
Hesitou. Decidiu que iria adentrar o parque que fica à frente da avenida próxima ao lugar em que trabalha. Recordou que fazia talvez anos que não andava entre as árvores daquela onipresente atração de sua cidade.
Era quase meio-dia. O lugar estava relativamente vazio. Procurou um banco e sentou-se. Inclinou o corpo e encostou a cabeça na extremidade do rústico móvel.
Olhou para cima e pôde observar as altas árvores que o rodeavam. Neste campo de visão, os espaços vazios eram preenchidos pelo azul do céu, em um início de tarde de inverno. Os dias anteriores tinham sido mais frios.
Nesse ínterim, o moço refletia e chegava a conclusões pessimistas. Chegou a pensar que estava próximo do fundo do poço. Só visualizava tudo que deixou passar e não aproveitou.
Os minutos eram contados e, provavelmente, os transeuntes devem ter estranhado as ações do moço. Mas, este nem se importava, de modo que se ajeitou no banco e sentou-se. Teve vontade de observar o parque.
Passavam estudantes, idosos, secretárias, executivos, famílias, casais dos mais variados tipos... Dentre os bancos disponíveis no ambiente, apenas outro era ocupado. Um senhor de quase 70 anos, nipônico e sozinho. O moço pensou que o velhinho deveria estar aproveitando a sua aposentadoria. Solitário, sem nada para fazer. Achou que poderia estar vendo o seu reflexo. Será que o velhinho nada mais é do que o moço só que mais idoso? Não poderia ser. Tinha acabado de passar da segunda década de vida. Como poderia ter idéias tão absurdas?
O moço sentiu a tristeza. Não conseguia nem chorar porque as lágrimas não poderiam expressar a dor daquele instante. A resignação dava mostras de ter chegado ao limite.
Não há mais volta - sussurou o moço.
Entretanto, os minutos seguintes eliminaram todo o universo lúgubre que havia sido construído.
Tão absorvido pela convergência de sensações, o moço nem tinha reparado que, no banco ao lado, tinham se acomodado uma mulher e seu pequeno filho. Duas pessoas aproveitando a agradável atmosfera do lugar. Eis que a mulher diz:
- Moço...
O moço, coitado, estava desligado de tudo. Espantado, virou-se e apenas respondeu com um 'Oi?'
A mulher, então, falou:
- O senhor pode tirar uma foto pra gente?
E o moço, já com uma expressão mais aberta, diz:
- Claro!
Após as instruções de como usar a máquina, lá foi o moço enquadrar o ângulo e tirar uma fotografia para a alegria do pequeno garoto.
A mulher agradeceu e o moço voltou para o banco de outrora. Ele virou o rosto para a esquerda, pois achava que iria chorar. Mas, nem cinco segundos depois, e a voz da mulher chega aos ouvidos do moço.
- Filho, fala tchau pro moço!
O moço observa o garoto. O pequeno adorável faz o sinal e diz, docemente:
- Tchau!
A mulher e o filho se dirigem ao portão de saída do parque e o moço se volta para o céu e começa a chorar. Lágrimas de felicidade brotam de seus olhos e o sorriso tão largo aparece em sua boca. Sente o arrepio, tendo a sensação de que um complexo de sentimentos obscuros são dissipados de seu coração. Parece um alívio.
Está leve. Parte em direção ao seu destino. Mais solto. E leva consigo a esperança de que o dia seguinte será ainda mais feliz.
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