sexta-feira, 29 de junho de 2007

Em aberto

Ontem eu fui ver a peça Hoje é Dia do Amor! lá no Espaço dos Satyros. Foi a primeira vez que eu fui no teatro depois de ter colocado os meus pés naquele lugar tão sagrado que é o palco. A peça faz tanta referência à dor, que me veio à mente um poema inesquecível do Baudelaire, que abaixo transcrevo. A peça me fez questionar: será que precisamos da dor para superar os nossos problemas ou a dor seria simplesmente um instrumento dos fracos que se submetem aos desígnios alheios?
Recueillement

Sois sage, ô ma Douleur, et tiens-toi plus tranquille.
Tu réclamais le Soir; il descend; le voici:
Une atmosphère obscure enveloppe la ville,
Aux uns portant la paix, aux autres le souci.

Pendant que des mortels la multitude vile,
Sous le fouet du Plaisir, ce bourreau sans merci,
Va cueillir des remords dans la fête servile,
Ma Douleur, donne-moi la main; viens par ici,

Loin d'eux. Vois se pencher les défuntes Années,
Sur les balcons du ciel, en robes surannées;
Surgir du fond des eaux le Regret souriant;

Le Soleil moribond s'endormir sous une arche,
Et, comme un long linceul traînant à l'Orient,
Entends, ma chère, entends la douce Nuit qui marche.

O vazio - Nº 115

O relógio não pára. ouve-se o tique-taque, o silêncio é quase sepulcral. Apenas algumas vozes adentram o recinto, mas não passam de meras palavras destituídas de significado. A máquina, estática, está à minha frente. Intimida. Nada pra fazer. Olho ao redor e vejo que o ambiente está inóspito. Será que é de propósito?





Não sei. Estes minutos finais propiciam o devaneio. Está acabando. Tenho que ir embora. 16 horas e 40 minutos. Já deu o horário. É mais um dia de trabalho que foi, passou e se exauriu.





Dia nº 115.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Pra deixar marcado

Infelizmente, não tenho tempo para escrever agora. Mas preciso deixar registrado sobre o que aconteceu naqueles três dias que eu tinha mencionado no post anterior: foi ótimo, inesquecível e emocionante. Superou todas as expectativas.

Hoje tive conhecimento de que até aqueles, descrentes e que implicavam com isso, renderam-se e gostaram. Fico mais feliz ainda. E é apenas o começo.

Por sinal, eu acho que ainda não preciso me despedir de Grover's Corners. Que bom! A esperança continua...

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Amanhã!

A contagem é regressiva. A tensão paira no ar. Uma tensão agradável e que quero que se repita por muitas vezes. Mas ainda tem o medo e a expectativa.

Especiais, mais do que especiais, extremamente representativos: três dias anotados no calendário, com antecedência absurda, e que sempre pareciam distantes. Agora, é logo ali. Um passo apenas para se concretizar um longo trabalho.

O horizonte se descortina. E eu estarei lá, na companhia dos meus amigos, para apresentar para outros amigos. Para emocionar, para representar, para refletir. No final - como já ensina Thornton Wilder - digo que simplesmente estarei lá, para conjugar o verbo essencial de nossa existência: Viver.

Música representativa deste post: True Adventures - British Sea Power

Só espero que eu consiga dormir hoje!

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Vira-se mais uma página

Acho que andei sonhando demais. Não estava preparado para receber uma notícia tão pungente. Foi durante uma conversa qualquer hoje à tarde: a bomba surgiu e eu fiquei paralisado.


Sabia que em algum momento eu teria ciência de tal estado (civil, por sinal, para a minha infelicidade). Mas, poderia, quem sabe, ser em uma outra ocasião. Voltei para as minhas tarefas e pensei, estupefato, o que tinha acabado de acontecer. Não caí em prantos. Pairou a sensação de que mais um capítulo talvez tenha sido encerrado.


Tudo bem. Na verdade, não. Mas sei que vai passar. Isso não vai me abalar, porque me sinto fortalecido. A minha vontade de seguir em frente supera esse impedimento. Eu continuarei o meu caminho, mesmo que o pão de queijo não seja mais tão saboroso assim.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Não é um dia igual aos outros...

Havia prometido escrever um post apenas sobre a peça que o grupo de teatro do qual faço parte irá apresentar no final deste semestre. Passou o tempo e não cumpri tal promessa. De qualquer modo, entre as linhas dos diversos posts que já escrevi, está a idéia basilar do texto escrito pelo Thornton Wilder, nos idos da década de 30...

Hoje, uma sexta-feira pós-feriado, eu não fui trabalhar. Hoje à tarde tenho que desempenhar o papel de motorista da minha mãe. Por isso, deixei pra compensar as horas na próxima semana, porque, afinal de contas, o meu corpo ansiava por um descanso mental e por um pouco de lazer.

A minha casa está vazia: meu pai e meu irmão foram viajar para a casa da minha avó materna em Minas, e cá estou eu, com minha mãe e minha avó paterna. Contarei um pouco sobre um momento diferente que aconteceu comigo ontem.

Estava aqui em casa, lá pelas duas, três horas da tarde, quando decidi sentar no gramado que tem atrás da minha casa, para fazer a minha partitura corporal que tenho que apresentar no domingo lá no Macu. Os raios de luz eram incessantes e me aqueciam enormemente, para combater o gélido clima presente, oriundo da paisagem verde que estava ao meu redor. Não havia uma nuvem no céu, apenas o azul se espalhava pelo meu campo de visão.

Como fazia tempo que eu não aproveitava este espaço, esta atmosfera. Por um instante, fiquei contemplando a frondosa araucária que os meus vizinhos plantaram há trinta ou vinte e cinco anos atrás. Nunca tinha reparado como ela é bela, resistente e importante. E olha que eu moro aqui desde os meus seis meses de idade!

Penso que, em diversas ocasiões, ignoramos a beleza e a alegria que estão ao nosso redor, sem tempo para pensar em outras coisas, a não ser em nossas próprias paixões egoístas, como já dizia Simon Stimson, no terceiro ato de Nossa Cidade.

E isso nada mais é que uma prova de como montar essa peça foi essencial para que eu pudesse refletir sobre a minha situação perante o mundo. A constatação de que devemos aproveitar intensamente a vida, porque não adianta postergar suas metas. É duro constatar que deixamos passar tantas coisas significativas, sem dar a devida atenção.

O representativo pode residir nas mais simples ocasiões, sem hora e data marcada. Sem aviso, sem alarde. De fato, a vida é lírica. Nós é que ainda não somos capazes de senti-la inteiramente.





Música representativa do post: Say Hello to the Angels - Interpol

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Fundamentais

Escrever um poema não exige apenas inspiração e vontade. É necessário tempo para que seja possível exprimir emoções e sensações de maneira lírica. É interessante perceber que um poema pode ter diversos significados. É, de certa forma, um documento histórico.





Ultimamente, não tenho escrito muitos poemas. A vida está agitada. Não digo que eu não a esteja aproveitando, pois, neste momento, tenho a certeza de que tenho feito escolhas certas (mesmo dentro da São Francisco), que serão - eu espero - o início de uma grande jornada.





Hoje, por exemplo. Tenho agradáveis arrepios só de lembrar a sua presença naquele imponente recinto na manhã gelada desta sexta-feira. Havia uma distância considerável entre nós. A hierarquia e a disposição física impediam um maior contato. Mas quando nossos olhos se cruzaram por uma fração de segundos, tive a certeza de que fiz a escolha certa. Mesmo que o máximo que já fiz foi ter apenas sonhado com o seu pão de queijo!





Por isso, das profundezas do meu bom e velho caderno, eu tirei o poema abaixo. Na verdade, trata-se de um poema inspirador para mim, mas que acaba fazendo sentido para o que desejo neste momento. É do bom ano de 2005, ano que, curiosamente, parece ainda não ter acabado. De uma época em que eu conseguia escrever poemas durante uma aula na faculdade!





À libertinagem



O padrão pode ser típico

Tenta exaustivamente me prender.

O desespero, incessante e característico,

cresce, fazendo-me perder.




Vigoroso, desetabiliza a minha mente.

O caos se instala e, talvez, mata.

Sem respostas, penso somente

em desvencilhar deste grilhão que me ata.




Sim! A solução foi encontrada.

A libertinagem, tão famigerada,

será o embrião da alegria plena!



Escreve-se assim com a delicada pena

O despertar da vida, caro libertino.

Finalmente, abrem-se as portas do chamado destino!






Música representativa do post: This Modern Love - Bloc Party