segunda-feira, 26 de março de 2007

As lições de Simon

Sei que havia prometido escrever sobre Nossa Cidade, a peça que o grupo do qual eu faço parte irá montar nesse semestre na mostra intitulada “Em busca do sagrado” do Teatro Escola Macunaíma.


Mas, preciso antes escrever sobre uma das personagens que eu interpretarei nessa montagem. Trata-se de Simon Stimson. Um incompreendido. Um desiludido, mas que apenas procura ser notado, sentido e vivo.


Quando li pela primeira vez o texto, percebi que o Simon era uma figura extremamente peculiar no ambiente recatado e monótono da cidade fictícia de Grover’s Corners, no Estado de New Hampshire. Como bem diz, durante o primeiro ato, uma outra personagem da peça, o Dr. Gibbs: “ Muita gente não nasceu para viver em cidades pequenas.”


Simon, cuja profissão é regente do coro de senhoras desafinadas na Igreja Congregacional da cidade, não se adapta a esse mundo. Vive angustiado e se afoga na bebida como instrumento de consolo para as decepções e amarguras cotidianas.
Mesmo fazendo uma análise além do que o texto traz para o leitor, penso que o Simon tem a função certa para quebrar o marasmo da cidade, de modo a escandalizar e subverter os padrões moralistas reinantes no início do século XX, especialmente em um lugar onde se vive com o básico, o simples, sem abertura para o incomum.


Dada essa caracterização, eu me apaixonei naturalmente pela personagem. Apesar de haver diferenças entre mim e o Simon, eu senti que interpretá-lo seria uma doce e árdua tarefa. Obstáculos certamente dificultarão o processo de construção da personagem. Contudo, a cada dia que passa, percebo que as diferenças de personalidade vão se atenuando. Posso até afirmar que existe um Simon em mim que é despertado em momentos esparsos e não menos vivazes.


No terceiro ato, Simon, amargurado, revela a mensagem da peça após ter desperdiçado a sua vida, chegando a uma conclusão sobre esse lapso temporal apenas ao estar na convivência dos mortos.
É um sujeito singular e inebriante em todos os sentidos. Capta o mundo e suas sensações, sem ter aproveitado a vida de forma suficientemente feliz. Enxergou a desatenção dos seres humanos aos detalhes mais sublimes e exuberantes de cada momento da vida. Com certeza, é uma lição da qual jamais esquecerei.

2 comentários:

RIDO disse...

Vai ser um delicioso desafio, meu caro! Ele é um personagem-chave para o entendimento da verdadeira mensagem do Thornton! O Simon só passa a "viver realmente" depois de morrer. Parece que sua vida é provisória. É a impressão que tenho. Ótimo texto! Abração!

César disse...

É verdade, meu caro! A vida dele é simplesmente transitória... Valeu por ter comentado Eli! Abração!