quinta-feira, 26 de abril de 2007

Um aniversário representativo

Esse espaço está meio abandonado, eu sei. Mas hoje eu encontrei tempo para escrever algumas palavras. Ainda mais que tenho motivos de sobra para escrever aqui. Hoje é o aniversário do meu amigo Guilherme.
Quem já leu o meu blog, já percebeu que eu citei o Guilherme algumas vezes, mas sem concretamente falar de como ele é um sujeito extraordinário, na acepção mais literal do termo.
Conheço-o há quase quatro anos por ocasião de estudarmos juntos na São Francisco. Posso dizer que já vimos tanta coisa nesse tempo que não é possível descrever toda essa excentricidade e diversidade de situações compartilhadas.
O Guilherme é amigo. É daqueles que você quer estar perto porque sempre traz algo de interessante para dividir com os outros. Confesso que, inicialmente, eu tinha certo medo de sua presença, já que uma amiga nossa da faculdade me falava no primeiro ano que ele não 'ia muito com a minha cara'. Eu me perguntava: o que será que eu tenho que poderia incomodá-lo?
Gradativamente fui conhecendo um pouco mais do Guilherme e percebi que ele tinha um entusiasmo e uma paixão para discutir os mais variados assuntos que acabei por me achar privilegiado. Afinal, o mais marcante para mim foi ter sentido que o ele me ensinou muito e ainda ensina, seja quando eu cometo os meus erros, tenho crises ou até quando perco a noção concreta das coisas.
Mas, felizmente, isso não ficou restrito à São Francisco. Há um ano atrás, nós estávamos prestes a começar a ter aulas de teatro. O espírito eminentemente artístico dele foi a mola propulsora para que eu pudesse resgatar a minha aspiração artística subutilizada e tomasse coragem em seguir o teatro, algo que hoje é além do representativo para mim.
Ainda tem mais. Não bastasse tudo que já acabei de descrever, o Guilherme foi fundamental para que eu consiguisse dissipar idéias que tanto confundiam a minha mente. Como foram essenciais os dias 25 de agosto e 12 de setembro, ambos do ano de 2006. Foi a ampliação dos horizontes, a certeza de que eu sempre posso confiar na sua pessoa, não importa como, onde e o porquê.
Guilherme, caso você leia este pequeno texto, aqui vão os meus sinceros votos de feliz aniversário. Tenho a certeza de que você realmente merece ter sucesso em tudo que você se propuser a seguir. Porque você sempre propaga o questionamento, o inconformismo. Porque você é talentoso, sincero e amigo. Tenho a sorte de ter um amigo como você. Espero que ainda tenhamos muito pela frente, sem deixar, é claro, de aproveitar o que essa vida visceral e latente tem a nos proporcionar.

sábado, 21 de abril de 2007

Aprendizado

Um poema pode dizer tudo. Nem preciso explicar. E ainda mais escrito por Fernando Pessoa, mesmo sendo o heterônimo com o qual eu menos me identificava até hoje, Álvaro de Campos. Contudo, sempre há a possibilidade de mudança de opinião. Ainda bem.

Contudo

Contudo, contudo,
Também houve gládios e flâmulas de cores
Na Primavera do que sonhei de mim.
Também a esperança
Orvalhou os campos da minha visão involuntária,
Também tive quem também me sorrisse.
Hoje estou como se esse tivesse sido outro.
Quem fui não me lembra senão como uma história apensa.
Quem serei não me interessa, como o futuro do mundo.

Caí pela escada abaixo subitamente,
E até o som de cair era a gargalhada da queda.
Cada degrau era a testemunha importuna e dura
Do ridículo que fiz de mim.

Pobre do que perdeu o lugar oferecido por não ter casaco limpo com que aparecesse,
Mas pobre também do que, sendo rico e nobre,
Perdeu o lugar do amor por não ter casaco bom dentro do desejo.
Sou imparcial como a neve.
Nunca preferi o pobre ao rico,
Como, em mim, nunca preferi nada a nada.

Vi sempre o mundo independentemente de mim.
Por trás disso estavam as minhas sensações vivíssimas,
Mas isso era outro mundo.
Contudo a minha mágoa nunca me fez ver negro o que era cor de laranja.
Acima de tudo o mundo externo!
Eu que me agüente comigo e com os comigos de mim.

sábado, 14 de abril de 2007

Canções para sentir

Tanto tempo sem escrever por aqui e já estava com saudades! Nas duas últimas semanas estive tão atarefado, mas sei que as semanas que estão por vir só me deixarão mais preocupado ainda. Dias nos quais comerei pouco, dormirei menos ainda e pensarei no famigerado projeto de monografia e nas temidas provas.
Mas este post não é para tecer comentários sobre como está a minha vida. Trata-se de um post sem um assunto definido ou sem lógica alguma...
De qualquer forma, queria apenas deixar registrada a beleza e a força da música como instrumento para atuar sobre o estado de espírito das pessoas. Para isso, destaco duas canções do ano de 1998 - antigas, é verdade - que voltei a ouvir ultimamente e que transmitiram um conforto para combater a angústia que pairava sobre mim nos últimos tempos.
A primeira é a versão da Fiona Apple para a música escrita pelo John Lennon: "Across the Universe". Não sei definir o meu apreço pela Fiona Apple. Ela foi a minha musa da segunda metade da década de 90. Desde a primeira vez que ouvi a música "Criminal" sabia que se tratava de um talento. Pouco convencional para os ouvintes em geral, mas definitivamente marcante. E "Across the Universe", que faz parte da trilha do filme Pleasantville - A Vida em Preto e Branco (um dos meus filmes favoritos, por sinal), representa a paz e a sabedoria em seu estado quase pleno.
Desde o doce tom de voz da Fiona até a letra delicada e contagiosa da canção, tudo se combina para transmitir uma alegria singela e sem exageros, como a beleza de uma gota de chuva escorrendo pelas pétalas de uma rosa.
Já a segunda música também é do século passado: "No Surprises" do Radiohead. Posso dizer que o que mais impressiona nesta canção é sua melodia, mais até que a própria letra. Os trechos inicial e final são de puro deleite. Proporcionam um estado de deslumbramento que não é comum acontecer.
E mais uma vez tenho que recorrer ao apelo excêntrico e altamente alternativo da voz do Thom Yorke. Eu costumo dizer que respeito o experimentalismo exacerbado do Radiohead, mas que eu ainda não estou preparado para algumas criações musicais produzidas pela banda. Mesmo assim, ouvir o Thom Yorke cantando traz tantas recordações que é inegável como é cativante a sua voz. Vibrante, enigmática e, principalmente, aflitiva.
Só para constar: os clipes destas duas canções são tão belos e representativos que é difícil eu não me emocionar. É a pureza da arte e sua missão de atingir os corações nas mais variadas vertentes.

domingo, 1 de abril de 2007

Pela literalidade do amor

Após ter criado este blog, idéias borbulharam na minha mente sobre possíveis temas para futuras postagens. Um deles era em torno do conceito "amor" e suas variantes, além dos efeitos deste estado psicológico durante a minha vida.
Cheguei a pensar em escrever uma série de postagens, totalizando cinco relatos sobre como o amor afetou a minha visão sobre o mundo. Cinco figuras diferentes, em momentos diferentes e em lugares diferentes. Esbocei, inclusive, inserir mais dois nomes referentes a potenciais amores em curso. Com isso, precisaria escrever sete 'posts' para descrever a minha trajetória em relação a esse sentimento denominado 'amor' e sua inerente intrincabilidade.
Decidi por uma solução mais razoável e coerente. Percebi que contar todas as histórias que vivi não bastava. A minha intenção aqui é fazer um pequeno manifesto. Uma única idéia com um objetivo definido. O nome do manifesto é o título deste post: "Pela literalidade do amor".
Poderia, primeiro, colocar a definição de 'literalidade' encontrada no dicionário, para construir o argumento central desse manifesto. Não o farei. Prefiro a subjetividade e o lirismo. Palavras que correm por nossas bocas como notas musicais de uma bela canção.
Quero dizer, esse manifesto pode ser de uma pessoa só. É a visão particular de um sujeito em sua constante busca do representativo, do único e da felicidade.
A literalidade almejada vem para estremecer a discrição inerente às relações afetivas. Concretizar aquilo que já está nítido. Não é necessário escancarar e viver o amor como ato de revolta às estruturas vigentes da sociedade. O que procuro defender é a imprescindibilidade de não se postergar a felicidade. Encontrar em alguém, em alguma coisa ou em alguma situação o 'topoi' intitulado 'amor', sem ter pudor de se submetr a esse estado de espírito. Não se deve reprimir sensações, pois o importante é buscar aquilo que está evidente, palpável e delimitado.
É lógico que a aplicação da idéia defendida aqui não é imediata. Deve ser realizada progressivamente. Aliás, eu ainda preciso me adaptar a referidos ideais, cuja construção é lenta e ainda se ressente de devidos reparos e aperfeiçoamentos.
Fica, ao menos, o desejo: por um amor desprovido de pudores e hesitações, literal e em estado bruto. Um diamante que brilha intensamente em relação à indiferença reinante.
Acho que Fernando Pessoa resume a idéia central deste post com o seguinte poema:
O amor


O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer


Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!


Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!


Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...