domingo, 1 de abril de 2007

Pela literalidade do amor

Após ter criado este blog, idéias borbulharam na minha mente sobre possíveis temas para futuras postagens. Um deles era em torno do conceito "amor" e suas variantes, além dos efeitos deste estado psicológico durante a minha vida.
Cheguei a pensar em escrever uma série de postagens, totalizando cinco relatos sobre como o amor afetou a minha visão sobre o mundo. Cinco figuras diferentes, em momentos diferentes e em lugares diferentes. Esbocei, inclusive, inserir mais dois nomes referentes a potenciais amores em curso. Com isso, precisaria escrever sete 'posts' para descrever a minha trajetória em relação a esse sentimento denominado 'amor' e sua inerente intrincabilidade.
Decidi por uma solução mais razoável e coerente. Percebi que contar todas as histórias que vivi não bastava. A minha intenção aqui é fazer um pequeno manifesto. Uma única idéia com um objetivo definido. O nome do manifesto é o título deste post: "Pela literalidade do amor".
Poderia, primeiro, colocar a definição de 'literalidade' encontrada no dicionário, para construir o argumento central desse manifesto. Não o farei. Prefiro a subjetividade e o lirismo. Palavras que correm por nossas bocas como notas musicais de uma bela canção.
Quero dizer, esse manifesto pode ser de uma pessoa só. É a visão particular de um sujeito em sua constante busca do representativo, do único e da felicidade.
A literalidade almejada vem para estremecer a discrição inerente às relações afetivas. Concretizar aquilo que já está nítido. Não é necessário escancarar e viver o amor como ato de revolta às estruturas vigentes da sociedade. O que procuro defender é a imprescindibilidade de não se postergar a felicidade. Encontrar em alguém, em alguma coisa ou em alguma situação o 'topoi' intitulado 'amor', sem ter pudor de se submetr a esse estado de espírito. Não se deve reprimir sensações, pois o importante é buscar aquilo que está evidente, palpável e delimitado.
É lógico que a aplicação da idéia defendida aqui não é imediata. Deve ser realizada progressivamente. Aliás, eu ainda preciso me adaptar a referidos ideais, cuja construção é lenta e ainda se ressente de devidos reparos e aperfeiçoamentos.
Fica, ao menos, o desejo: por um amor desprovido de pudores e hesitações, literal e em estado bruto. Um diamante que brilha intensamente em relação à indiferença reinante.
Acho que Fernando Pessoa resume a idéia central deste post com o seguinte poema:
O amor


O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer


Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!


Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!


Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

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