Após ter criado este blog, idéias borbulharam na minha mente sobre possíveis temas para futuras postagens. Um deles era em torno do conceito "amor" e suas variantes, além dos efeitos deste estado psicológico durante a minha vida.
Cheguei a pensar em escrever uma série de postagens, totalizando cinco relatos sobre como o amor afetou a minha visão sobre o mundo. Cinco figuras diferentes, em momentos diferentes e em lugares diferentes. Esbocei, inclusive, inserir mais dois nomes referentes a potenciais amores em curso. Com isso, precisaria escrever sete 'posts' para descrever a minha trajetória em relação a esse sentimento denominado 'amor' e sua inerente intrincabilidade.
Decidi por uma solução mais razoável e coerente. Percebi que contar todas as histórias que vivi não bastava. A minha intenção aqui é fazer um pequeno manifesto. Uma única idéia com um objetivo definido. O nome do manifesto é o título deste post: "Pela literalidade do amor".
Poderia, primeiro, colocar a definição de 'literalidade' encontrada no dicionário, para construir o argumento central desse manifesto. Não o farei. Prefiro a subjetividade e o lirismo. Palavras que correm por nossas bocas como notas musicais de uma bela canção.
Quero dizer, esse manifesto pode ser de uma pessoa só. É a visão particular de um sujeito em sua constante busca do representativo, do único e da felicidade.
A literalidade almejada vem para estremecer a discrição inerente às relações afetivas. Concretizar aquilo que já está nítido. Não é necessário escancarar e viver o amor como ato de revolta às estruturas vigentes da sociedade. O que procuro defender é a imprescindibilidade de não se postergar a felicidade. Encontrar em alguém, em alguma coisa ou em alguma situação o 'topoi' intitulado 'amor', sem ter pudor de se submetr a esse estado de espírito. Não se deve reprimir sensações, pois o importante é buscar aquilo que está evidente, palpável e delimitado.
É lógico que a aplicação da idéia defendida aqui não é imediata. Deve ser realizada progressivamente. Aliás, eu ainda preciso me adaptar a referidos ideais, cuja construção é lenta e ainda se ressente de devidos reparos e aperfeiçoamentos.
Fica, ao menos, o desejo: por um amor desprovido de pudores e hesitações, literal e em estado bruto. Um diamante que brilha intensamente em relação à indiferença reinante.
Acho que Fernando Pessoa resume a idéia central deste post com o seguinte poema:
O amor
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
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