domingo, 21 de março de 2010

Pipocas

Sala de cinema. Tarde quente de sábado. Sentado na penúltima fileira, observo três senhoras acomodadas na fila da frente. Do alto de seus setenta anos (ou mais), elas pareciam ter vivido bem suas vidas. Mas esse não é o caso desse relato. O que me chamou a atenção foi um pequeno trecho da conversa entre as três amigas. Vou chamá-las de Maria Alice, Marta e Beatriz. Nomes aleatórios para uma situação qualquer.

O filme ainda nem havia começado e Beatriz já tinha comido metade do saquinho de pipoca. Aí Marta, sentada ao seu lado, diz:

- Nem começou o filme e você já comeu quase a pipoca inteira! Olha o seu colesterol..."

Beatriz responde, com um ar de incomodada com o que acabara de ouvir:

- Tá bom. Não vou comer mais então.

Notando que a sua amiga de longa data talvez não tenha entendido a brincadeira, Marta então fala:

- Tô só brincando, Beatriz. Não precisa levar a sério. Então não falo mais nada.

Passam-se uns dez segundos de desconforto até o momento em que Maria Alice puxa uma conversa com Marta, sendo logo em seguida continuada por Beatriz. O leve entrevero dissipou-se sem qualquer intervenção. Apenas foi esquecido, como deve ser.

Vendo tudo isso que aconteceu, eu imaginei que duas conclusões poderiam ser feitas.

A primeira: tal conversa já foi travada por mim e amigos meus no tempo presente. Sim, com os meus 24 anos. Será que daqui a cinquenta anos continuaremos assim? Nossos comportamentos já estão meio solidificados?

A segunda: será que já estou velho? Afinal, tenho conversas com o mesmo teor da conversa das velhinhas....

A conclusão nenhuma cheguei. Sei somente que esse momento me marcou e registrado ficou. Assim. Sem qualquer carga negativa ou positiva. Apenas uma sensação. A sensação de que estou vivo. E nada mais.

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